Tema do 4º ciclo: "INFÂNCIA IMAGINADA"
Avenida Rodrigues Freitas 207-r/c, 4000-421 P Bonfim, Portugal Porto, Portugal
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Tema do 1º ciclo: "O SONHO AMERICANO"
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1º Ciclo de Cinema Do Praça da Alegria Futebol Club
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tema: O SONHO AMERICANO
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para a Broadway. A razão porque estava ali era outra, procurava a América.
Meses antes de chegar, no fim do verão de 2008, meti na cabeça que se não fazia uma grande viagem até aos trinta podia muito bem bater as botas sem conhecer muito mais que meia dúzia de dunas pardacentas e um certo cheirinho desse glorioso penico a que chamam mediterrâneo. Foi então que decidi arranjar um emprego onde se raspasse gordura queimada de uma chapa ferrugenta, juntar dinheiro, e vinda a primavera, partir. No dia em que comecei à procurar trabalho recebi um telefonema que me convidava a leccionar um semestre no ensino superior.
Quando, em conversas, anunciei que o destino da minha viagem era os Estados Unidos, a maioria das pessoas torceu o nariz e com chavões emprestados à Intelligentsia franco-alemã, sem se aperceberem da ironia, apressavam as suasquestões: "Qual o interesse de ir a um país de ignorantes onde reina o culto à riqueza e à Nação, onde é senhora a narrativa imperial, onde a obsessão pelo domínio mundial evoca os discursos da liberdade, da fraternidade, da igualdade e dos ombros sem caspa para impor à força as suas visões do mundo?" E seguiam em contraponto: "Porque não rumas caminho ao oriente e vais sentar-te à mesa com culturas ancestrais onde a natureza primitiva do Homem ainda é respeitada pelos seus modos de vida e onde toda a gente anda de chinelos e é feliz? -Toda? -Sim, toda sem excepções, mesmo quando chovem bombas americanas!". Mas eu criei-me a tourear porcos no curral da minha avó, a esterilizar galinhas com um pau e a caçar girinos entre os limbos da ribeira das cabras e o que queria saber era quanto de verdade havia em todos os filmes americanos que vira na minha infância. Não me interessava ir à procura da essência da natureza humana entre alucinações causadas por disenteria e anúncios de refrigerantes pintados à mão. Queria saber de que maneira, e porquê, construíam os
americanos as suas fantasias, e quanto daquilo que nós, no velho continente, acreditamos ser nosso afinal fora inventado em Hollywood. Essa era a América que procurava, e de repente lá estava eu na Central Station.
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O mago de Melon Park não inventou o sonho americano como também não inventou a corrente eléctrica ou a lâmpada incandescente, mas podia muito bem ter reclamado a sua autoria, até porque o conceito de autoria, se não foi ele que o inventou, foi ele que lhe deu a forma que hoje conhecemos. Graças a ele, uma ideia nos dias que correm é propriedade. Se Thomas Edison não inventou o sonho americano muito contribui para a invenção da sua
morte. Há quem defenda que a modernidade e o seu programa de emancipação do Homem através da Razão acabaram nos campos de concentração nazis. Revisitando a historia eu diria que no principio do séc. XX, em Coney Island, o seu funeral já tinha acontecido. O mago queria
sacar dois coelhos da cartola, queria demonstrar que o uso de corrente alterna não era seguro, isto porque não detinha a sua patente e, por sua vez, demonstrar a eficácia do seu último invento, a cadeira eléctrica, para o poder vender a uma indústria que nunca tem falta de clientes. No dia 4 de janeiro de 1903, sobre o passadiço, perante uma audiência de 1500 pessoas e registando em película o acontecimento com o fim de o projectar em todos os Estados unidos, Thomas Edison electrocuta um Elefante fêmea chamado Topsy. O bicho cai redondo em segundos sem um bramido de dor ou agonia. Tinha-se inventado a primeira maneira inteiramente moderna de matar e nascera na forma de espectáculo. Dois coelhos numa cajadada. O progresso Triunfara.
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bicharada por todo o lado, montanhas enormes, bosques virgens, rios selvagens, praias imensas e, no entanto, nada do que é belo o é por mão do Homem. Quando se conquista um território com a capacidade técnica de arrasar montanhas não é fácil encontrar bom senso ou humildade. Numa cidade americana as colinas talvez ainda existam para se poder vender aos ricos casas com vista, o resto edifica-se em zona terraplanada numa grelha infinita de ruas, avenidas e casas iguais. Cameron Stevens, um americano de quem me tornei amigo, cresceu numa dessas casas, em Beverton, uma cidade dormitório ao lado de Portland. Cam é um americano de quarta geração, viveu toda a sua vida por ali e não é muito dado a viajar. Um bonacheirão amável, amante da literatura e da musica que simpatizou com a minha natureza de labrego, nada cosmopolita, e com a minha tendência para o escárnio. E não era difícil encontrar coisas de que dizer mal em Portland, onde toda a gente quer dar nas vistas com a sua excentricidade no que parece ser uma corrida para ver quem é o mais apanhadinho da paróquia. Cam era Dj e Taxista, e normalmente dormia de dia e trabalhava à noite. Um dia ao cair da noite passou por mim durante o turno e ofereceu-me boleia para casa. Falámos um pouco da vida, sobre a sociedade de consumo onde tudo se capitaliza, da competição entre as pessoas pela ascensão social, e sobre qual era a minha opinião dos americanos. Confessou-me que gostava de conduzir o taxi porque pagava a renda e não era um emprego pretensioso, soube que era procurado pela justiça por não ter comparecido em tribunal como testemunha e antes de me deixar à porta de casa mostrou-me a arma que escondia debaixo do assento não fosse o diabo tecê-las numa noite de azar.
Muito podia escrever sobre o sonho americano, sobre as sua origens e contradições, como se alterou enquanto Ethos ao longo da história, emparelhá-lo ao capitalismo, à sociedade de consumo, às guerras e migrações, mas tal exercício pouca utilidade tem na tentativa de dar expressão às condições emocionais que testemunhei e partilhei aquando o meu périplo por terras do tio Sam, e que no fundo são a razão por detrás dos filmes que escolhi sobre este tema. O melhor será voltar aos mapaches.
Poucos dias após chegar a Portland, os meus amigos americanos, Cam incluído, combinaram ir passar uma noite ao tal parque natural perto de Astória e acantonar numas cabanas que lá se encontram para esse fim. Eu acampei toda a vida e desfruto muito da tranquilidade de uma fogueira ao ar livre e esta seria uma óptima oportunidade de conhecer as maravilhas naturais da região. Não foi difícil aperceber-me que a minha ideia não coincidia com a dos meus amigos americanos, que meia hora depois de atearmos o fogo estavam podre de bêbados e uma hora depois, os que restavam em pé, purgavam o corpo nalgum canto escuro como varas de amieiro dobradas pelo vento. E isto diante do olhar passivo dos mapaches, que ao fim de um par de horas eram os únicos que me faziam companhia, ainda que mantendo uma considerável distância de segurança, não fosse eu lembrar-me da infância e tentar esterilizá-los com um pau. Fiquei ali a observá-los durante horas, eram muitos, uns em cima das arvores, outros entre os arbustos outros debaixo das cabanas, sempre aos pares e sempre atentos a tudo. Quase ao nascer do sol um valente estrondo provocou-lhes uma brusca retirada. Quando olhei para trás vi o Cam estatelado no alpendre, com as calças em baixo e um grande galo na testa. Ajudei a levantá-lo e a tapar-se, ao parecer queria urinar mas não se tinha de pé, aliás tinha começado a aliviar-se ainda dentro do saco de cama mas alguém conseguira convencê-lo a ir dar uma volta ao bilhar grande. Provavelmente baixara as calças antes de parar e isso provocara-lhe a queda. Quando o levantei balbuciava e ria-se sem se entender uma palavra, os óculos estavam partidos e cheios de baba. De repente um grupo de mapaches aproximou-se de nós, deviam estar habituados a que os turistas lhes dessem de comer àquela hora ,e ficaram ali a uns vinte centímetros dos nossos pés com cara de cão à espera de naco. Senti a felicidade que se sente em miúdo quando algo nos deslumbra. Houvera tentado tocar-lhes não tivesse ocupado em tentar manter o Cam de pé, e nisto ele aproveitou a sensação de equilíbrio, destapou a sua masculinidade, e ofereceu aos estóicos mapaches uma longa e reluzente chuva dourada, sofrida pelos bichos apenas com um piscar de olhos. Nesse dia percebi que o sonho americano é feito de angústia, e que talvez o conceito que melhor o define seja o de desapego emocional.
Enquanto escrevia estes textos perguntei a um amigo de Portland pelo Cam, e ele respondeu-me que lá continua a guiar o seu taxi e a beber até à morte, e depois
exclamou: "Freedom and Wealth is hard to Handle!!".
Rodrigo Neto
12/03/2013
Porto
1.
"AMERICAN MOVIE: THE MAKING OF NORTHWESTERN" de Chris Smith
(1999, 107min)
17 de Março
"O homem pensa, Deus Ri" e eu, que sou otário, tenho compaixão e ternura pela ingenuidade Humana. Ela torna evidente o quão frágil e patético somos, o quão imaginativos podemos ser com os nossos desejos, e o quão desprotegidos estamos sem a solidariedade dos outros. Houve uma altura em que o planeta foi plano, que o céu foi firme e que o sol andou à volta da terra.Ptolomeu errou com o Almagesto, mas a sua visão do cosmos é mais curiosa que a de Galileu precisamente porque está errada. Cristovão Colombo também errou, não contava com um continente pelo meio. Dizem que morreu a acreditar que tinha chegado à India. A verdade é que se lançou ao oceano numa casca de noz à procura de um mito e isto faz dele um ingénuo ou um desesperado. E que dizer dos Indios, que lhes passaria pela cabeça quando não os mataram a todos na praia?
Mark Borchardt talvez seja um ingénuo, talvez um mitómano, ou talvez só queira escapar à sorte de ter nascido no midwest, também conhecido pelos americanos como o "bible Belt". O certo é que está determinado a ser cineasta, arrastando há anos a produção do seu filme de terror "Northwestern". American movie documenta a historia de Mark e dos seus companheiros na perseguição do seu sonho.
2.
"DARK DAYS" de Marc Singer
(2000,81 mins):
24 de Março
Quando os olhos são virgens o medo não é medo, é assombro. A escala de Nova Iorque é impressionante, as suas torres são mais impossíveis que as de Babel, expecto quando tombam. Há limusines do comprimento de uma baleia, fatias de piza que dão para embrulhar um morto, bocas de incêndio que rivalizam com a Sagrada Família, enfim tudo é à Americana. Mas os olhos habituam-se, porque as coisas grandes ou pequenas não deixam de ser o que são. De tudo o que vi em Nova Iorque, o que mais me impressionou foi o vapor que saía das tampas dos esgotos, não porque seja um espetáculo grandioso, mas porque nunca antes vira tal coisa e porque desconhecia a subtileza da sua razão. Claro que é por ser provinciano que me pergunto sobre este tipo de situações. Se vir uma ratazana a passear nos carris de uma estação de metro, em vez de repulsa ou indiferença sinto uma enorme curiosidade, quero saber o que faz ali naquele fosso,o que a levou ali, quero saber como sobrevive num sitio que a maioria de nós considera interdito sob pena de sucumbirmos de maneira dolorosa e estúpida . Achamos as ratazanas animais abjectos porque vivem nos esgotos mas não foram elas que os construíram, nem são elas que têm necessidade deles, elas simplesmente vivem lá. Dark days é um filme que acompanha a vida um grupo de sem abrigo que vive no túnel ferroviário chamado Freedom Tunnel. Marc Singer, que nada sabia de como fazer um filme, tomou conhecimento que havia gente a viver neste túnel e mudou-se para lá. Ao fim de alguns meses decidiu fazer um documentário para retratar as suas vidas até ao dia que são expulsos pela Amtrack, dona do túnel. Com a ajuda dos outros sem abrigo, que filmaram, iluminaram e construíram algum equipamento técnico rudimentar de apoio e com câmara e película emprestada, realizou este filme.
3.
"KING KONG: FOR A FISTFULL OF QUARTERS" de Seth Gordon
(2007, 79 mins)
7 de Abril
Lucrécio afirmou que o Homem acumula riqueza porque tem medo da morte. Ou será que disse que o Homem é mau porque sabe que vai morrer? Não sei ao certo quais os versos do romano. Imaginemos que o jogo está relacionado com a ansiedade que nos provoca a morte. Talvez o ser humano jogue para ter a sensação que adquire competências sobre o acaso, sobre o que é aleatório, procurando assim aliviar-se da certeza incerta da sua condição. Ou talvez, através do jogo, o Homem teste o divino, em especial nos jogos de azar, onde se o jogador não perde é porque deus não permite. A verdade é que todos os jogadores que conheço são supersticiosos, e não deve haver falta de alminhas que acendem velas antes de ir torrar o dinheiro ao casino, nem de marmanjos dispostos a ir esfolar os joelhos a Fátima em troca de um bilhete de lotaria premiado. Depois está a admiração pelo jogador, aquele que de alguma maneira parece elevar-se à sorte, seja porque nele observamos qualidades que influenciam o resultado, seja porque o dotamos de algo que consideramos acima das nossas capacidades, ou porque lhe concedemos qualidades místicas e lá no fundo achamos fez um pacto com o diabo. Por fim, existe a infame batota, que no fundo é o constructo moral do jogo, que por mérito próprio pode ser igualmente admirada e que de ser tão terrena se materializa como uma arte.No "King Kong-For a fistful full of quarters" o jogo é o Donkey Kong, os revolveres são joysticks e o prémio são três letras para a eternidade.
4.
"I LIKE KILLING FLIES"
14 de Abril
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